UNO Agosto 2013

Um espaço ibero-americano de investimentos recíprocos?

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A força das empresas de países emergentes é uma sinal do reequilíbrio da riqueza no mundo. As empresas ibero-americanas crescem e suas estratégias de negócios lhes permite avançar em outros mercados. A crise na Europa e EUA abre novas oportunidades de expansão através de aquisições de companhias endividadas. A estabilidade da região, com 5 países em grau de investimento promete um futuro próspero para as multinacionais e para o nascimento de novas empresas. O crescimento das classes médias latino-americanas também favoreceu a consolidação da região. A fase mais intensa acontece a partir do ano 2002, impulsionado pela alta dos preços das matérias-primas, as economias em crescimento, redução nos custos de capital e uma forte demanda da China. Brasil, México e Chile são líderes em geração de empresas. A Colômbia e o Peru estão crescendo rapidamente e a Argentina ficou para trás com respeito ao que se poderia esperar dela. As empresas de mercados emergentes conhecem um perfil de consumidor que os países desenvolvidos talvez não perceberam até a crise.

A crise na Europa e EUA abre às companhias ibero-americanas oportunidades de expansão

Na Europa, Portugal e Espanha

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As empresas latinas olham para a Europa por várias razões: 1) para adquirir empresas, 2) para investir, 3) para instalar sedes ou escritórios e 4) para estabelecer parcerias, bem seja por projetos ou permanentes.
Dos projetos de investimento latino na UE entre 2003 e 2010, 55% veio do Brasil, 33% do México, 3%, da Argentina, 1%, da Colômbia, e o mesmo do Chile, de acordo com o último relatório sobre IED da CEPAL. Os investimentos do Brasil, Colômbia e Chile na Europa entre 2006 e 2009 oscilaram em torno dos €$ 2 bilhões, atingindo os €$ 12 bi em 2010. Os investimentos do México em 2009 chegaram aos €$ 3 bilhões. Os setores que receberam o maior volume de investimento são o das industrias básicas (petroquímica, mineração, cimento e aço) e os setores de consumo (alimentos). As aquisições no setor de serviços se concentraram nas telecomunicações e serviços bancários, especialmente por parte das empresas brasileiras em Portugal. Se nos limitados investimentos de nova planta, Portugal com 34% e Espanha com 21% são os maiores países receptores de IED da América do Sul. Após uma época de investimentos portugueses e espanhóis na América Latina nas últimas décadas, agora estes países são o espaço preferido para investimentos das multinacionais latinas.

As últimas aquisições de empresas da América Latina na Europa em 2010 foram a BSG Resources Guinea Ltd. (Reino Unido) pela Vale (Brasil) por US$ 2,5 bilhões e PetroRig II (Noruega) para o Grupo R (México) por US$ 540 milhões. Em 2011: Sigdo Koppers (Chile) –fornecedor de serviços para mineração– adquiriu a Magotteaux (Bélgica). A WEG do Brasil, fornecedora de soluções de sistemas elétricos industriais, adquiriu a austríaca Watt Drive Antriebstechnik, de fornecimento de energia, com operações na Europa e unidades industriais na Alemanha e Cingapura. O grupo América Móvil está investindo na Europa: Telekom Austria e KPN são as suas mais recentes compras.

Portugal é a porta de entrada à Europa para muitas multinacionais brasileiras

A presença de escritórios fora da Espanha de algumas empresas latinas se deve especialmente a:

• A proximidade de empresas europeias com as quais contam com parcerias como o caso da aeroespacial Embraer com sede em Paris, dada a sua relação com a Dassault.

• Aproveitar os laços históricos com uma metrópole, como o caso do Itaú, Odebrecht e Camargo Correa, em Lisboa.

• Se estabelecer onde os mercados globais têm o seu mais alto grau de excelência. Este é o caso de empresas como Vale, Petrobras, Antofagasta, Molymet que escolheram Londres, onde está a London Metal Exchange, maior mercado mundial de metais não-ferrosos. Na Alemanha se instalaram três empresas brasileiras de autopeças: Sabó, Randon e Tupy e a mexicana San Luis Corp.

Portugal é a porta de entrada da Europa para muitas empresas brasileiras. Além disso, essas empresas têm mostrado interesse em comprar ativos portugueses após a recente crise, o que pode ser um apoio importante para a economia portuguesa em tempos difíceis.

A brasileira Camargo Correa adquiriu 94,8% da cimenteira portuguesa Cimpor em um IPO em 2012. A empresa investiu um €$ 1 bilhão para multiplicar por três seu capital na companhia portuguesa, uma das dez maiores empresas de cimento do mundo, que tem instalações em treze países da Europa, Ásia, América do Sul e África, e um volume de negócios de mais de E$ 2 bilhões. Os ativos da Cimpor na Espanha e em outros países mediterrâneos foram trocados com a também brasileira Votorantim. Em 2012 a construtora Andrade Gutierrez se interessou pelas privatizações da gestão aeroportuária e de Águas de Portugal. Odebrecht chegou a fazer uma oferta pela gestão do aeroportos, que acabou sendo agregado à Vinci da França. Totvs, empresa de software, tem em Braga, desde 2009, seu centro de desenvolvimento para o mercado europeu. Oi e Portugal Telecom tem participações cruzadas entre suas ações.

Considerando a força das empresas latino-americanas, é conveniente trabalhar os vínculos com a Espanha em quatro aspectos: compras, investimento, instalação de sedes, alianças

Se olhamos para as translatinas que operam na Espanha:

1) Aquisições: CEMEX entrou na Espanha em 1992, comprando a Valenciana de Cementos e La Auxiliar da Construção, as duas maiores empresas de cimento do país. Sua sede corporativa está em Madrid. Bradesco comprou o BBVA no Brasil em 2008. Bimbo México comprou, há um ano, a Bimbo Iberia, através da compra de Sara Lee. Carlos Slim, da América Móvil é um dos acionistas de La Caixa e está pesando em entrar no capital da Prisa, cujas ações ainda estão sendo compradas no mercado. Adquiriu recentemente 34% do time de futebol Real Oviedo Futebol através da Carso.

2) Investimentos: Pemex fechou recentemente um contrato com a Navantia para a construção de dois navios – hotéis em Barreras e Navantia. Peña Nieto destacou que este acordo “vai além de uma compra de navios, uma vez que haverá uma transferência de tecnologia que gerarão benefícios mútuos.” O Grupo Votorantim se estabelecerá na Espanha depois de adquirir da Cimpor, de Portugal, sua participação na Corporación Noroeste, cimenteira que tem entre os acionistas a família Masaveu, acionistas históricos do Bankinter, que serão os sócios da Votorantim na Espanha.

3) Sedes corporativas europeias de empresas latino-americanas: É essencial citar o livro A década das Multi-Latinas de Javier Santiso. No livro, se oferece um extenso catálogo das sedes europeias das empresas latino-americanas. Conclui-se que as empresas mexicanas tendem a instalar sua sede europeia na Espanha. É o caso da CEMEX, PEMEX, FEMSA, Grupo Alfa, Grupo Modelo, PI Mabe, Aeromexico, Top Rádio, Vitro, Laboratorios Silanes, Sofitek, Omnilife. Nem todos estão em Madrid, mas em Guadalajara, Toledo, Leon e La Coruña. Por sua vez, as empresas brasileiras têm mostrado preferência pelo Reino Unido, Portugal ou Alemanha, embora Gerdau (Bilbao), Spoleto, Marisol, Itautec (Madrid) e Alpargatas (Barcelona) tenham escolhido a Espanha. A última a chegar, como resultado de seus investimentos, é Votorantim que acabou de estabelecer em Madrid a sede central para suas operações na Espanha, Marrocos, Tunísia, Turquia, China e Índia e está contratando uma nova equipe para a integração. As empresas chilenas são mais propensas a instalar suas sedes no Reino Unido, perto dos mercados de capitais, dos tribunais de arbitragem aos quais estão sujeitos e dos seus concorrentes globais. Não obstante, várias delas escolheram Espanha: duas operadoras, CSAV e Oceânica e uma companhia aéreas, LAN. As empresas peruanas ou colombianas internacionalizados como Carvajal, Yanbal ou Ajegroup escolheram Madrid. As argentinas escolhem a Espanha (Arcor, Tecna) ou Itália, como Techint, Milan-owned.

4) Parcerias: Existem uniões para conquistar mercados ou alianças para projetos específicos, como a da FCC com a Odebrecht para construir o metrô do Panamá. As uniões também se geram para compartilhar os custos de investimento, como é o caso do petróleo e do gás: Petrobras e Repsol compartem exploração de petróleo na costa brasileira e depósitos de gás no Peru. Na conquista de mercados, podemos citar a parceria da Telefónica com a Huawei ou ZTE, que permitiram que estas empresas chinesas entrassem na América Latina. Alianças entre empresas espanholas e latino-americanas também podem servir para entrar em novos mercados ou para realizar projetos específicos.

O estabelecimento de parcerias para projetos, recursos ou mercados é uma área que precisa de desenvolvimento entre a Espanha e América Latina

Conclusões

Considerando a força das empresas latino-americanas, é conveniente trabalhar nos vínculos com a Espanha em quatro áreas: compras, investimentos, instalações de sedes e alianças. Estar aberto ao investimento “de retorno” das multinacionais latinas é aconselhável tanto para Espanha como para Portugal. É possível fomentar as relações com incentivos fiscais e jurídicos e capitalizando os setores espanhóis por excelência: bancos, utilities (telecomunicações, eletricidade, água), construção, renováveis, têxtil, turismo, vinho, pesca. Se outros países da Europa demonstraram ser atraentes para a implementação de sedes é por serem excelentes em algum setor: nossos mercados de matérias-primas no Reino Unido, indústria automotiva na Alemanha, aeronáutica na França. Não percamos de vista que, além de nossos setores principais, existem também núcleos competitivos, como no caso da indústria siderúrgica em Bilbao ou montagem de automóveis em cidades como Barcelona, Valladolid ou Vigo. O estabelecimento de parcerias para projetos, recursos ou mercados–Médio Oriente, Ásia, EUA, África–também é uma área que precisa de atenção, trabalho e desenvolvimento entre a Espanha e América Latina. Este trabalho de fortalecer interesses poderia ser feito olhando para a Península como um todo, e em parceria preferencial com Portugal.

Mercedes Temboury
Patrono da UNICEF Espanha
Desenvolveu sua carreira em empresas de tecnologia, como Indra, IBM, Accenture e Telefónica, em posições relacionadas à inovação, desenvolvimento de sistemas, gestão do conhecimento, inteligência competitiva e definição de planos estratégicos. Mercedes é especialista em gerenciamento de projetos e equipes multinacionais na Europa e na América Latina. Autora de publicações relacionadas à área de tecnologia da informação e seu impacto no desenvolvimento socioeconômico para o Instituto de Empresa e outros, em colaboração com a OCDE e INSEAD. Depois de deixar a Telefónica em março de 2012, tem colaborado com o Real Instituto Elcano e com Marca Espanha, tendo sido incorporada, em dezembro de 2012, como integrante do Conselho de UNICEF Espanha. 

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