UNO Agosto 2014

O poder suave: a nova diplomacia colombiana

16_2Durante muitos anos, a Colômbia viveu condenada a repetir uma história manchada pelo sangue de centenas de vítimas que sofreram os efeitos da violência, do tráfico de drogas e da criminalidade desenfreada. Hoje, nosso país conseguiu se reinventar e, nutrindo-se dessa criatividade “macondiana”, que o prêmio Nobel García Márquez descreveu com perfeição, a Colômbia está imersa em um círculo virtuoso. As agências internacionais aplaudem os esforços em matéria de crescimento e segurança para o investimento; o compromisso do g overno de reduzir a desigualdade permitiu tirar mais de 2,5 milhões de colombianos da pobreza extrema; a inflação diminui, enquanto a taxa de emprego aumenta; nossas instituições têm demonstrado que estão fortes o suficiente para lidar com os altos e baixos do dia a dia político e a decisão do presidente, Juan Manuel Santos, de buscar a paz são apenas alguns exemplos dos bons tempos que o nosso país está vivendo. Essas transformações positivas contribuíram, de maneira notória, para uma mudança na percepção do país no exterior.

Hoje, nosso país conseguiu se reinventar e, nutrindo-se dessa criatividade “macondiana”, que o prêmio Nobel García Márquez descreveu com perfeição, a Colômbia está imersa em um círculo virtuoso.

Começamos com uma década turbulenta na década de 1990 no que diz respeito à ordem pública. Paradoxalmente, enquanto as bombas do tráfico de drogas explodiam, alguns jovens idealistas acreditavam que, com uma nova Constituição, seria possível realizar as primeiras transformações políticas a favor de uma Colômbia pós-moderna. O país deu importantes passos evolutivos no seu sistema político e democrático. A sociedade plural, que nesse momento se reconheceu, permitiu que o nosso país estimulasse um debate vibrante de ideias e posições, que resultaram em uma capacidade efetiva de reforma. Uma sociedade que começou a reconhecer o seu potencial, desenvolver-se livremente, ter consciência dos seus direitos e estar sempre na vanguarda para defendê-los, fortalecê-los e ampliá-los.

16Na primeira década do século XXI, vivemos um processo em que o país começou a recuperar a confiança em si mesmo. As longas crises, motivo pelo qual muitos pensavam que o país não seria mais viável, ficaram para trás. Foi recuperado o controle do território, o Estado está presente em grandes extensões territoriais e foi iniciado um ciclo de crescimento econômico constante, que significa o salto de um país viável para um país promissor, como definido por uma publicação popular.

Este ciclo de recuperação foi vivido na Espanha de uma forma muito especial. Como é natural, os grandes laços históricos e culturais fizeram com que muitos compatriotas escolhessem a Espanha como seu lugar de residência. Esta comunidade, com determinação, honestidade e trabalho, construiu o seu espaço dentro da sociedade espanhola, e hoje são reconhecidos como potenciais parceiros e trabalhadores muito dedicados.

Esta sociedade colombiana em crescimento nos aspectos cultural, político, econômico, entre outros, torna-se um gerador de boas notícias, de vitórias, de oportunidades e, em geral, de atração de interesses para elementos positivos. O poder suave da Colômbia começa ser vivido com mais força no país. Esse poder suave, que faz parte da chamada “Nova Diplomacia Pública”, está intimamente ligado à sinergia entre a situação interna da Colômbia com o exterior.

As imagens tradicionais do imortal Gabriel García Márquez e Juan Valdez, embaixador por excelência do café colombiano, começam a se somar gols de Falcão e de Bacca, no SevilLa, que fizeram com que muitos espanhóis vibrassem; os ciclistas colombianos estão presentes no ciclismo europeu e fazem sonhar com os grandes e majestosos Andes, Santiago Giraldo, Roberto Farah e Juan Sebastián Cabal, promissores jovens do “esporte branco” no Masters de Madri e no ATP de Barcelona; as músicas de Juanes, Carlos Vives e a dança de quadris da Shakira mostram que, na Colômbia, o talento e a criatividade são abundantes, e para não me estender muito, as multidões de compradores de café Nespresso que saem das lojas com suas sacolas enfeitadas com o chapéu símbolo dos cafeicultores colombianos fazem com que a Colômbia se posicione cada vez melhor na mente de milhões de espanhóis e europeus.

A Colômbia atual é uma grande geradora de notícias positivas, os colombianos estão se apropriando da sua nação e estão fazendo com que seja sentida com força no exterior.

A língua espanhola, que muitos dizem que não foi muito preservada no território colombiano, com certeza, foi um dos motores do posicionamento positivo da Colômbia no mundo. A Colômbia, o país de García Márquez, é o mesmo território de Florentino Ariza e de Milagros la Bella, que um dia saiu voando para o céu. Em um lugar ainda desconhecido foi onde quase fuzilaram o Coronel Aureliano Buendía ou onde o gênio Melquíades chegou todos os anos para mostrar as novas invenções da ciência. É nessa Colômbia de 47 milhões de habitantes que a magia e realidade coexistem, fazendo com que muitos amantes de García Márquez imaginem o inimaginável. Mas a literatura colombiana não é apenas Macondo. Há algumas décadas, começa a surgir com força uma nova geração de escritores talentosos, que narram a violência a partir das vozes das vítimas, como é o caso do magistral livro de Héctor Abad Faciolince “El olvido que seremos“. Santiago Gamboa narra suas vivências em Madri, Paris e Nova Deli em livros como “El síndrome de Ulises“; Juan Gabriel Vásquez reconstrói o passado em romances como “Historia secreta de Costaguana” ou “El ruido de las cosas al caer“, e Jorge Franco fala da sua natal Medellín em “El mundo de afuera“, romance que recebeu o Prêmio Alfaguara de Romances. Como dizia García Márquez, na Colômbia, já existe uma variedade de autores preparados para assumir o comando de uma nova geração da literatura colombiana.

A Colômbia atual é uma grande geradora de notícias positivas, os colombianos estão se apropriando da sua nação e estão fazendo com que seja sentida com força no exterior. A Colômbia do futuro próximo, a Colômbia do pós-conflito, a Colômbia em paz que é capaz de se reconstruir sobre o arrasado e curar suas feridas apostando em iniciativas de paz e reconciliação, como no município de El Salado, e será uma fonte inesgotável de poder suave da nova Diplomacia Pública, de talento e otimismo. Uma Colômbia que, a partir da literatura, das salas de aula, da pintura, da música e do esporte, é capaz de repensar e refletir sobre seu passado, presente e futuro em paz.

Vamos continuar a construir o futuro com base na confiança, na criatividade e na inovação que nossa cultura transmite atualmente a todo o mundo.

Fernando Carrillo
Embaixador da Colômbia na Espanha
É embaixador da Colômbia na Espanha desde novembro de 2013. Ministro do Interior da República da Colômbia. (2012 - 2013). Advogado e sócio economista da Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá. Fez um mestrado em Leis e Finanças Públicas na Universidade de Harvard e outro em Administração e Políticas Públicas na Escola de Governo John F. Kennedy, na mesma universidade. Promoveu e liderou o processo da “Séptima Papeleta”, que deu origem à atual Constituição Política da Colômbia. Em 1991, foi Conselheiro Presidencial, Constituinte e ministro da Justiça durante o governo de César Gaviria (1990-1994).

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