UNO Agosto 2014

A nova diplomacia – uma visão sueca

04_2[dropcap type
=”square” round=”yes” color=”#f5f5f5″ background_color=”#4583b3″ ]Foi-se o tempo em que os embaixadores dedicavam seu tempo à negociação de tratados bilaterais, escreviam relatórios secretos para a capital e, em geral, levavam uma vida afastada dos olhos do público. Naquela época, discrição era a palavra-chave e a expressão “diplomacia silenciosa” era a melhor descrição do trabalho.

As nações de hoje estão competindo por atenção. Os governos precisaram se interessar pela “marca” do seu país e consultores estão ganhando milhões por medir o valor das reputações dos países. Atualmente, todos nós seguimos índices internacionais de acordo com vários critérios e comemoramos quando nosso país está entre os cinco primeiros em inovação, cultura, educação, etc.

O trabalho da maioria dos embaixadores tornou-se liderar a divulgação da imagem ou “marca” do seu país no país para o qual foram enviados. No caso dos embaixadores suecos, isso significa que não nos dedicamos apenas a promover as exportações suecas ou investimentos na Suécia. Não. Também somos um “gabinete de comunicação” para a Suécia. Isso quer dizer que não nos comunicamos apenas com o governo do país para o qual fomos enviados. Evidentemente, ainda conversamos com nossos colegas no Ministério de Relações Exteriores, no gabinete do Primeiro-ministro ou em outros ministérios sobre os pontos de vista suecos e tentamos obter apoio espanhol para iniciativas e ideias suecas.

Também somos um “gabinete de comunicação” para a Suécia.

Além disso, também precisamos tentar conquistar os corações e mentes do público em geral e de importantes grupos de pressão, organizações, imprensa e formadores de opinião. Tentamos despertar um interesse pela Suécia, seus produtos e serviços, suas ideias e políticas, assim como por investir, estudar ou trabalhar e morar na Suécia. O que queremos fazer é criar uma imagem positiva do nosso país, despertar um interesse que faça com que as pessoas que queremos atingir comecem a ter uma conexão com a Suécia.

Neste esforço, a diplomacia digital se tornou um dos instrumentos mais importantes.

Para o Serviço de Relações Exteriores da Suécia, as mídias sociais foram um passo bastante natural. A Suécia é um país muito “conectado” e, com nossa tradição de abertura e pouca hierarquia, foi fácil tomar a decisão de deixar nossos embaixadores e diplomatas à vontade em blogs e no Facebook. Para começar, as páginas das embaixadas foram escritas em sueco e no idioma do país de acolhimento; o Facebook e os blogs estão principalmente em sueco e são direcionados para um público sueco. A ideia por trás disso era usar mídias digitais para atingir o público sueco com o objetivo de explicar e fornecer uma visão do dia a dia de uma embaixada da Suécia. Assim, o contribuinte sueco teria uma possibilidade de entender melhor o que estava sendo feito com o dinheiro dos impostos.

Hoje, todas as embaixadas ou embaixadores suecos estão no Twitter.

Houve uma grande diferença: pela primeira vez, uma comunicação adequada foi possível por meio de blogs e do Facebook. Uma pessoa podia escrever comentários – críticos ou positivos – ou fazer perguntas e a conversa trataria daquilo que lhe interessava, não apenas daquilo que o Ministério queria transmitir.

Hoje, todas as embaixadas ou embaixadores suecos estão no Twitter; nossas páginas no Facebook estão escritas em vários idiomas; Instagram, Flicker e outros instrumentos digitais são usados diariamente para nos comunicarmos com os países aos quais fomos enviados.

04 Qual é a estratégia de comunicação digital de uma embaixada? O objetivo é atingir todas as pessoas que, em nossa opinião, estão interessadas na Suécia, que são receptivas aos valores e políticas suecos ou que têm a possibilidade de nos ajudar a difundir nossa mensagem. A maioria dos embaixadores usa seu Twitter para divulgar boas notícias sobre a Suécia, decisões políticas que possam ser de interesse, informações ou artigos cuja divulgação consideramos importante e, às vezes, relatos mais pessoais. A meu ver, embora a conta no Twitter seja oficial – utilizo o Twitter em minha função como embaixadora sueca –, acho importante que a comunicação tenha um toque pessoal. É importante ser pessoal, mas nunca privado.

Parte dos ganhos com as mídias sociais é obter um feedback instantâneo a respeito do que foi dito. Podemos não ser capazes de convencer a todos que nos seguem de que nossas ideias ou posições são corretas, mas acho que todo mundo respeita o fato de que você é aberto em relação a elas e está pronto para iniciar um diálogo sobre as questões. O fato de que nossos diplomatas estão apresentando seus pensamentos e as políticas suecas  uma prova do nosso forte compromisso com a transparência e a verdadeira abertura para novas ideias.

Iniciar ou participar de campanhas no Twitter (chamadas de “campanhas de hashtag”) é uma forma de contribuir para o debate internacional acerca de questões que têm importância para a Suécia. As campanhas de hashtag podem não solucionar os problemas, mas são uma boa oportunidade para manter questões que estão em consonância com as políticas suecas na agenda e aos olhos do público. Portanto, o envolvimento de um embaixador sueco em campanhas como #UnitedforUcraine ou #BringBackOurGirls é algo natural.

Por fim, convém salientar que as mídias sociais (especialmente o Twitter) são uma ferramenta fantástica para nos mantermos informados e acompanharmos as “novidades” nos círculos em que estamos interessados. As mídias sociais se tornaram um dos instrumentos mais importantes da nova diplomacia e estão aqui para ficar.

Cecilia Julin
Embaixadora da Suécia na Espanha e em Andorra
Embaixadora da Suécia na Espanha e em Andorra desde setembro de 2011, Cecilia Julin entrou para o serviço diplomático em 1984. Já trabalhou no Peru, Israel, Estados Unidos e Eslováquia. Também trabalhou nos departamentos de políticas comerciais e no departamento regional para as Américas. Foi chefe de gabinete do Ministério do Comércio e União Europeia, diretora do departamento de Imprensa e Comunicação e porta-voz do Ministério de Relações Exteriores (2006-2011). É Mestre em Economia pela Universidade de Estocolmo.

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