UNO Novembro 2014

O cinema que nos une

09_2O cinema aproxima o mundo cotidiano das ilusões, da realidade e da imaginação. O cinema é, sem dúvida, um veículo imbatível para transmitir valores e estreitar laços. Nenhuma outra manifestação cultural tem a capacidade de aumentar a conscientização sobre a cultura e as diferentes formas de vida como o cinema. Isso sabem muito bem os americanos que o têm aproveitado há décadas para difundir seu modo de vida e seus valores em todo o mundo com grande sucesso.

O espanhol é uma língua falada por 500 milhões de pessoas no mundo e, no entanto, até agora não temos sido capazes de aproveitar esta força e este nexo de união para e por nossas histórias. É chegado o momento de fazê-lo. Espanha e América Latina têm um enorme talento e um grande poder criativo; a proximidade cultural, linguística e histórica, aliada às particularidades de cada nação, constituem uma das maiores fontes de inspiração que devemos ser capazes de transferir à linguagem audiovisual, para refletir nossa história tal e qual queremos conta-la, nossa vida tal e qual como gostaríamos de vê-la e nossas tradições e costumes tal como são ou foram. Nós, a comunidade ibero-americana, é quem devemos narrá-la para evitar que os outros interpretem nossa essência.

Podemos fazê-lo? Claro que sim. Mas é necessário estabelecer políticas de cooperação que reforcem a presença do cinema feito na Ibero-América nos demais países, procurar histórias, lugares e artistas que nos unam, potencializar o mercado interno. Devemos fomentar a co-produção, os programas de cooperação e a organização de festivais e outras iniciativas  conjuntas de promoção.

A proximidade cultural, linguística e histórica, aliada às particularidades de cada nação, constituem uma das maiores fontes de inspiração que devemos ser capazes de transferir à linguagem audiovisual.

Um bom exemplo disso foi a primeira edição dos Prêmios Platino, organizados pela EGEDA (Entidade de Gestão de Direitos da Propriedade Intelectual) e pela FIPCA (Federação Ibero-Americana de Produtores Cinematográficos), com a colaboração de outras instituições, organizados em abril deste ano, no Panamá. Mais de 700 filmes inscritos, representando 22 países de língua espanhola da América Latina, além de Brasil, Portugal e Espanha reuniram-se no que já é o evento mais importante de fomento e promoção internacional da cinematografia Ibero-americana. Os meios de comunicação de 28 países divulgaram mais de 1.700 notícias geradas pela primeira edição destes prêmios, atingindo a 16 milhões de pessoas em todo o mundo. A magnífica resposta desta iniciativa é o primeiro passo para construir a marca do “cinema Ibero-americano“, que, juntos, devemos impulsionar globalmente.

Mas será que é possível promover uma indústria audiovisual ibero-americana sem uma adequada proteção dos direitos de seus titulares? Claramente, não. A partir da EGEDA, temos desenvolvido um ativo papel para o fortalecimento, promoção e distribuição da produção audiovisual na Espanha e Ibero-América, trabalhando especialmente na defesa dos direitos de propriedade intelectual dos produtores audiovisuais nos dois continentes. Mantemos importantes relações com associações de produtores dos diferentes países da comunidade ibero-americana, e implementamos entidades de gestão coletiva de direitos de propriedade intelectual junto a associações de produtores nacionais no Equador, Peru, Colômbia, Chile, México e Uruguai, que permitem gerir de forma eficaz relacionados os direitos que, em matéria de propriedade intelectual, correspondem a seus criadores.

09Devemos ser conscientes de que, ao proteger a propriedade intelectual, não apenas garantimos o futuro dos criadores, mas também asseguramos a continuidade de conteúdos, “nossos conteúdos”, para alimentar a sociedade da informação. E podemos perder de vista que, ao proteger a propriedade intelectual apoiamos um setor muito importante, porque a indústria audiovisual é um setor estratégico, não apenas em termos culturais, mas também econômicos. É uma indústria que contribui para a criação de postos de trabalho e atrai investimentos para todos os setores da economia de um país. Além disso, representa um excepcional elemento de promoção da “marca país”, exportando sua cultura, história e valores, sendo uma inestimável vitrine de valor de promoção turística.

No entanto, infelizmente, nem todo mundo reconhece o direito de propriedade intelectual. A pirataria, tão assentada em algumas mentalidades, está causando um terrível mal à indústria cinematográfica e aos criadores. É necessário romper com a ideia da gratuidade total quando se trata de conteúdo, enquanto não se recompensa com outros bens ou serviços. E nisto temos que estar juntos. Incentivamos o fortalecimento e desenvolvimento do nosso cinema. Não se pode falar da indústria cinematográfica sem ter em conta os Estados Unidos e, por isso, a EGEDA mantém uma aliança estratégica com o MPA (Motion Picture Association of America), para a potencialização do cinema espanhol e ibero-americano neste continente. Organizamos, em Los Angeles, desde 1994, e em Miami, há quatro anos, mostras anuais de cinema espanhol, não apenas para dar conhecimento e fomentar as produções mais recentes, mas também criar um lugar de encontro da indústria norte-americana com a espanhola e ibero-americana.

As co-produções, felizmente cada vez mais frequentes entre os países ibero-americanos, são uma fórmula que deve ser ainda mais desenvolvida.

A soma de esforços, por vezes, consegue o impossível. Ainda no complexo campo e difícil terreno dos financiamento de projetos. As co-produções, felizmente cada vez mais frequentes entre os países ibero-americanos, são uma fórmula que deve ser ainda mais desenvolvida, ao mesmo tempo em que deve-se seguir apostando no financiamento mediante garantias específicas para a indústria audiovisual, tais como as concedidas através do “Audiovisual SGR“, a primeira sociedade de garantia recíproca do setor audiovisual, criada pela EGEDA e pelo Ministério da Cultura espanhol. Ambas as fórmulas são compatíveis e necessárias para fortalecer a indústria do cinema ibero-americano.

Apoiar o cinema ibero-americano é acreditar que este pode ser um dos mensageiros mais eficazes de cultura e dos valores de cada nação, é entender que este pode se tornar uma atração turística de primeira ordem e estar convencido de que o cinema é o embaixador mais qualificado do talento ibero-americano e que melhor vai contar a nossa história e nossa realidade.

Enrique Cerezo
Produtor, distribuidor cinematográfico e Presidente da EGEDA
Iniciou sua carreira em 1966 com a filmagem do longa Un millón en la basura, de José María Forqué. No final dos anos oitenta, começa a produzir grandes sucessos do cinema espanhol: Cómo ser mujer y no morir en el intento, Todo es mentira (em títulos originais), entre outros. Nos últimos dez anos, produziu mais de setenta filmes, entre as quais se destacam Las Brujas de Zugarramurdi, La pata Quebrada, Brujas, La buena estrella, La hora de los valientes, You’re the one, El oro de Moscú, Juana la loca, Las 13 rosas e Todos estamos invitados (em títulos originais). Porém, o mais relevante de seu trabalho se reflete na VIDEO MERCURY FILMS, empresa fundada em 1980 e dedicada exclusivamente à recuperação do cinema espanhol. Além disso, desde 1998 é presidente da EGEDA (Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais).

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