UNO Março 2015

As oportunidades da inteligência na empresa: como implementá-las

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Adam Smith dizia, em A Riqueza das Nações, que todo homem superestima suas possibilidades de ganhar e que a maioria subestima suas possibilidades de perder. Então, como agora, a inteligência pode marcar a diferença.

As vantagens “competitivas definitivas” evaporam de repente e sobretudo em setores inovadores, os maiores competidores podem logo deixar sucumbir às mais sérias ameaças à nossa sobrevivência. Os mercados abrigam mais novidades pela entrada e saída de novos agentes do que pela transformação das empresas que já estão nele. A vantagem mais sustentável que cabe aspirar é a superioridade no processo de tomada de decisão e a alimentação destas com a melhor inteligência.

A boa inteligência – conhecimento vinculado à tomada de decisões – é uma combinação afortunada de absorção e de ação, orientada a apoiar a empresa na execução do seu objetivo alimentando sua capacidade de adaptação.

Terão melhor inteligência aquelas empresas cujos membros sejam todos captadores e usuários de inteligência, onde esta é distribuída para aqueles que podem fazer bom uso dela, e onde se priorize o necessário em cada momento para armazenar o potencialmente interessante no futuro. O valor da inteligência é dado pela contundência com que reforça a capacidade da empresa de tomar medidas necessárias para enfrentar o futuro e evoluir.

O valor da inteligência é dado pela contundência com que reforça a capacidade da empresa de tomar medidas necessárias para enfrentar o futuro e evoluir

Há pelo menos três falhas de inteligência que podem acometer as empresas, ainda que não falte informação: que não cheguem ao lugar certo, que mesmo estando no lugar certo não se empreenda a ação necessária ou que não seja realizada a tempo. Assim, em matéria de inteligência empresarial, tem-se produzido um progressivo crescimento das áreas consideradas relevantes. Até o final dos anos 70, o foco se limitava à captação de dados. Na década de 80, surgiu a análise setorial. Uma década mais tarde, se incorporaria o estudo do processo de tomada de decisão e seu impacto sobre os resultados corporativos. Finalmente, foi incorporado o estudo do comportamento humano e seu impacto sobre a geração e a circulação da informação capaz de ser transformado em inteligência.

011Deslocou-se a atenção dos dados brutos para a geração de perguntas. A potência das respostas vem determinada pela pertinência de nossas perguntas, pois estas delimitam o campo de nossa compreensão da realidade que, por sua vez, vem condicionada pela qualidade da nossa inteligência prévia. Nossa inteligência está fundamentalmente condicionada pelo peso do fator humano. Buscamos com obstinação elementos que confirmem nossas hipóteses de partida e olhamos com ceticismo, quando não suspeita, tudo o que parece interpor-se no caminho da confirmação de nossas expectativas. Nossas percepções estão profundamente influenciadas por nossas expectativas e não demoramos em aborrecer aqueles que não compartilham nossos pontos de vista, pois logo vemos nestes, obstáculos para os nossos propósitos.

Esta sensibilidade ao fator humano é apenas uma das razões pelas quais a inteligência competitiva vai muito além dos estudos de mercado. A inteligência competitiva é um processo cíclico e interativo, que embora se alimente de informação, busca identificar lacunas de conhecimento e captar sinais do ambiente. Aspira identificar oportunidades e reduzir incertezas. Onde estudos de mercado se concentram no presente, a inteligência competitiva projeta-se em direção ao futuro. As cadeias de valor substituem os mercados setoriais como dado de estudo preferencial. Os elementos informativos que vão além das opiniões e puros dados – quase sempre predominantemente financeiros – são incorporados. A segmentação dá lugar à análise de cenários e a exploração de ambientes. Os elementos-chave da inteligência – Key Intelligence Topics (KITs) – estão diretamente ligados aos determinantes fundamentais do sucesso da empresa  – Key Success Factors.

… faltam profissionais com sensibilidade para estas questões dentro das organizações e são ainda mais escassos aqueles capazes de lidar com essa demanda

Neste ponto, cabe perguntar-se, e então, onde reside o problema para uma divulgação mais ampla dessas atividades em nossas empresas? Cabe citar dois fundamentais. Por um lado, faltam profissionais com sensibilidade para estas questões dentro das organizações e são ainda mais escassos aqueles capazes de lidar com essa demanda. Por outro lado, a formulação e operacionalização de uma estratégia de inteligência competitiva é um projeto que requer um investimento e um compromisso de médio e longo prazo. Não existem atalhos. Em suma, o futuro da inteligência competitiva em nosso país depende do fator humano.

Isaac Martín
Diretor-geral de Internacionalização da Empresa na ICEX Espanha Exportação e Investimentos
É graduado em Direito pela Universidad Autónoma de Madrid e funcionário do Corpo de Técnicos Comerciais e Economistas do Estado desde 1999. Atualmente, é Diretor-Geral de Internacionalização da Empresa da ICEX Espanha, na área de Exportação e Investimentos. Trilhou sua carreira profissional como conselheiro econômico e chefe comercial em vários escritórios comerciais. Dentro sua extensa carreira docente, destaca-se sua participação no curso "Inteligência Empresarial e Estratégia Competitiva" do Centro de Estudos Comerciais. Atualmente, é membro do Comitê Executivo da OEME (Observatório da Empresa Multinacional Espanhola) da Escola Superior de Administração e Gestão de Empresas (ESADE).

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