UNO Janeiro 2016

A Reputação Digital Empresarial: um princípio essencial

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Estamos em uma era em que a comunicação é simplesmente vertiginosa. Apenas nos poucos minutos usados para ler este artigo, na rede terão sido criadas mais informações e dados do que em muitas décadas antes deste século. Neste cenário em que a troca de dados é imediata e ilimitada, estamos diante de um novo fenômeno no qual todos estamos expostos ao julgamento de tudo o que fazemos, e esta observação é particularmente verdadeira para as companhias. A avaliação é realizada através da ampla utilização das redes sociais. Inclui eventos, notícias e outras atividades corporativas. A revisão abrange uma comunidade, uma região, um país, um hemisfério ou todo o mundo. Esse é o potencial alcance do julgamento digital, o mesmo que, em princípio, não tem limites geográficos ou culturais.

As fronteiras vêm sendo derrubadas de maneira constante, particularmente desde a queda do Muro de Berlim, em 1989. A tecnologia, hoje, permite aos habitantes de todo o mundo um grau de imediatismo sequer sonhado antes. Neste contexto, companhias de todos os tamanhos têm acesso a um mercado global, real e ativo. As oportunidades de negócios estão espalhadas por todo o planeta, mas do mesmo tamanho são os riscos de fazer negócios, já que o julgamento sobre o que se faz ou se deixa de fazer em uma empresa é permanente e comunicado no mesmo instante.

O regulador mais importante é o cidadão, que através de um telefone celular pode espalhar, em segundos, informações, imagens ou dados através das redes sociais

 

Agora a avaliação do desempenho corporativo não depende apenas das ações que podem ser realizadas por autoridades que operam num determinado país. Neste contexto, talvez o mais importante regulador seja o cidadão, que através de um telefone celular pode espalhar, em segundos, informações, imagens ou dados através das redes sociais. As empresas podem fazer dos cidadãos e das redes sociais seus melhores aliados, mas também podem converte-los em seus piores inimigos. A opção anterior exige que as empresas contem com uma política de comunicação destinada a uma melhor divulgação de suas atividades em benefício da comunidade. Neste trabalho de redução de riscos, a assessoria jurídica desempenha um papel significativo, que deve estar focado na prevenção.

07_1Neste contexto, um tema que pouco tem sido falado é o que acontece nos julgamentos que fazem parte uma empresa e se nos mesmos existe uma conexão em relação ao que está acontecendo nas redes sociais. Embora, em teoria, os procedimentos de um juiz não devam ser afetados pelo que acontece no ambiente externo, na comunicação cidadã, a realidade é que a conectividade com o que ocorre na sociedade afeta em diferentes formas o ânimo de um juiz, no entendimento das circunstâncias do caso, e, eventualmente, no veredito final. Por esta razão, as companhias e seus assessores não podem perder de vista a importância de manter uma política ativa de posicionamento e contenção, que evite justamente que temas formalmente alheios aos procedimentos impactem negativamente os resultados finais dos mesmos.

A velha frase de que é preciso um grande esforço para se construir um edifício, mas basta a retirada de apenas algumas paredes para faze-lo cair é uma maneira clara de entender o que está acontecendo nesta era digital. Para uma companhia, um acontecimento ruim e sua difusão podem gerar um impacto tão grande em sua reputação e prestígio comercial que a recuperação poderá não ser possível no curto prazo. Nada como a prevenção e uma política ativa de comunicação para prevenir este tipo de desastre, algo que nos atrevemos a dizer e que é particularmente verdadeiro e importante em se tratando de processos contenciosos, que podem ser afetados por uma má ou limitada política de comunicação.

A contribuição que queremos fazer a esta discussão é que as companhias devem incutir em todos os seus funcionários uma nova cultura em relação ao cuidado no modo de atuar: a exposição a uma crise digital é permanente. A imagem da empresa pode se deteriorar subitamente. Daí a importância de contar com ferramentas de prevenção e, dependendo do caso, com a capacidade de reação para mitigar situações de risco. Este paradigma de aversão ao risco certamente se aplica para o caso de processos judiciais em que uma empresa esteja envolvida.

Atualmente, a profissão jurídica na era digital tem enormes desafios em termos de trabalho para elaborar e implementar estratégias legais direcionadas a preservar a reputação de seus clientes

 

As novas gerações precisam estar imersas nas políticas de comunicação, especialmente porque para elas esta é uma realidade tangível. Essa parte da pirâmide populacional é quem melhor está capacitada para empreender os esforços da comunicação corporativa. No entanto, são estes mesmos jovens que, por serem tão profusos na utilização de redes sociais, estão mais propensos a cometer erros. Daí a importância da capacitação e do treinamento com caráter preventivo e, por sua vez, também reativo.

Diante destas mudanças, os advogados não estão isentos. Atualmente, a profissão jurídica na era digital tem enormes desafios em termos de trabalho para elaborar e implementar estratégias legais direcionadas a preservar a reputação de seus clientes. Os juristas devem participar desta nova realidade com entusiasmo, responsabilidade e criatividade. Aqueles que não entenderem esse novo contexto, se tornarão obsoletos no curto prazo.

No mundo em que nos movemos não há um retorno. Ao contrário, o avanço da tecnologia será cada vez mais intenso e mais profuso. As mudanças vão continuar penetrando no cotidiano de nossas vidas. Do mesmo modo, continuarão criando novas oportunidades e riscos para as empresas. Não há outra opção senão preparar-se para estas mudanças, mas reconhecendo a importância de sermos cuidadosos diante dos múltiplos riscos, que inclui estar em constante vigilância pelos consumidores e da comunidade em geral. As empresas que aprenderem a viver sob esta grande lupa terão melhores chances de continuidade de sucesso e de capitalizar os benefícios que a era digital coloca a seu alcance. Renovar-se ou morrer. Digitalizar-se ou extinguir-se.

Juan Francisco Torres-Landa
Sócio da Hogan Lovells BSTL, S.C.
É sócio do escritório Hogan Lovells BSTL na Cidade do México. Dedica-se às áreas de direito comercial, investimento estrangeiro, energia, ambiental, imobiliário, comércio exterior, migração e contratos. Obteve os títulos de bacharel pela Universidade Nacional Autnoma do México (UNAM), em 1988 e mestrado em Harvard, em 1990. Foi professor de Direito Comercial na UNAM e na Universidade Iberoamericana. É membro da International Bar Association, da Ordem dos Advogados do México e da American Bar Association. Ainda foi presidente do Clube Harvard do México até 2001, secretário-geral do México Unido contra a Delinquência a partir de 2005 e, desde 2014, é membro do Conselho da Fundação México em Harvard. [México]

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