UNO Setembro 2016

Cuba na encruzilhada

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Depois de 56 anos, Barack Obama e Raúl Castro anunciaram uma histórica mudança nas relações entre os EUA e Cuba; no entanto, ainda está em questão o real aproveitamento desta icônica oportunidade e quais as reais intenções para gerar mudanças estruturais em um país historicamente fechado para o resto do mundo. O bloqueio econômico é um tema ainda não resolvido, e com ele vem também um novo ciclo de desafios que a ilha deverá considerar se o governo quiser dar esse salto.

Na frente econômica, embora haja a possibilidade de migrar para um modelo capitalista como o chinês, também existe a alternativa de permanecer no status quo ou mudar para um esquema intermediário. A liberdade econômica seria uma válvula de oxigênio para o governo cubano, e poderia funcionar, contanto que o país dê liberdade aos seus trabalhadores. Qualquer investidor ainda deve passar pelo filtro do governo, e esse nível de intervenção pode influenciar no funcionamento do mercado de trabalho.

No nível político, até o momento, os sinais foram claros: não há vislumbre de mudança nem abertura para as liberdades civis e políticas; assim, a democracia e os direitos humanos ainda serão um desejo para muitos. Estou convencido de que se deve buscar um mecanismo de transição que possa dar garantias àqueles que vivem na sombra da ditadura, que outorguem incentivos para deixar o poder, e, acima de tudo, restaurar os direitos humanos e civis.

O capital humano tem um inestimável valor em áreas como a cultura, a arte, a preservação do patrimônio, o desenvolvimento científico e o polo de negócios, que passam a ter caráter estratégico

06_1Se falamos de recursos que podem ser de grande importância para a decolagem de Cuba, o capital humano tem inestimável valor em áreas como a cultura, a arte, a preservação do patrimônio, o desenvolvimento científico e o polo de negócios, que passam a ter caráter estratégico.

Atualmente, a educação, a inovação e a tecnologia na ilha não estão em boas condições, e os professores têm pouco acesso à pesquisa e ao desenvolvimento (precário acesso à internet, limitações para sair de Cuba, entre outros), o que desencadeia um acesso limitado ao mundo do conhecimento.

É difícil ter certeza sobre como a situação política e econômica estará quando o governo de Castro terminar, mas é possível imaginar dois cenários: o primeiro, baseado em um momento de clímax, que permitirá uma transição acelerada para um regime plenamente democrático, e o segundo, mais provável, no qual o poder político permanecerá sob o controle autoritário daqueles que governam hoje a ilha.

Olhando o panorama dos Estados Unidos, vemos que este se encontra em um momento bastante incerto, com sua sucessão de governo. Um futuro com Donald Trump no comando poderia levar todos esses avanços com Cuba à estaca zero. A eventual proposta do país anglo-saxão em relação à ilha tampouco está clara, e se imagina um acordo unilateral com muito poucas exigências (especialmente do ponto de vista dos direitos humanos), razão pela qual não houve mudança substancial na política externa.

Os processos de transição são complicados, já que exigem decisões difíceis. A questão econômica é fundamental para atingir uma mudança na raiz

Os processos de transição são complicados, já que exigem decisões difíceis. A questão econômica é fundamental para atingir uma mudança na raiz, e Cuba poderá ter um salto relativamente rápido se seus modelos gerados forem eficientes entre os capitais estrangeiros e os recursos (humanos e de capital) não-estatais cubanos. O turismo, a cultura, a educação e a pesquisa são fatores essenciais para que Cuba inicie sua trajetória de modernização. No entanto, os países não podem alcançar mudanças substanciais enquanto os direitos humanos e as liberdades individuais sigam como item pendente.

Felipe Kast
Deputado da República do Chile
Economista formado pela Pontifícia Universidade Católica e mestre em Economia. Atualmente, é deputado do distrito 22, de Santiago Centro. É membro das comissões permanentes de Direitos Humanos e Povos Indígenas e de Educação no Congresso. É membro da Evolução Política (Evópoli), partido do qual é presidente. Como político de direita independente, participou ativamente do governo do ex-presidente Sebastian Piñera, primeiro como ministro do Planejamento e, em seguida, como delegado presidencial para os acampamentos e aldeias de emergência ocupados por vítimas do terremoto de fevereiro de 2010.

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