UNO Setembro 2016

Uma oportunidade para Cuba e seus amigos

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Deixei a Embaixada do México em Havana em 2005, depois de três anos fascinantes. Não tenho bola de cristal, mas sim otimismo em relação ao futuro de Cuba e das oportunidades que apresenta para os países com os quais teve estreita relação histórica, como Espanha e México. Cuba, como aparece na imagem de seu escudo nacional, é a chave para o Golfo do México, que está integrado ao Mar do Caribe. A “Pérola das Antilhas” foi a plataforma estratégica para a entrada da Espanha na América, um continente no qual imprimiu – em grande parte de sua extensão – sua língua, sua cultura e visão de mundo. A normalização das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba inicia um processo de abertura política, econômica e cultural que reforça a vitalidade do mundo que se comunica em espanhol e é formado por mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo.

Tenho grande admiração pelo povo cubano. Pude observar seu elevado nível de educação, sua capacidade de superar a adversidade, seu alto nível de integração social e sua criatividade. Com pouco mais de 11 milhões de habitantes e uma grande diáspora, os cubanos são conhecidos em todo o mundo pela excelência nas artes, nos esportes e na pesquisa científica. Cuba tem ricas expressões de uma identidade que exalta tanto sua origem europeia quanto africana e, é claro, sua origem indígena. A extremidade ocidental da ilha, que quase toca Yucatán, se parece com o México, enquanto o Oriente é mais caribenho, expressando na música ambos extremos, entre a guitarra e bongô. Em Cuba, sempre me senti em casa, como me sinto hoje na Espanha. Ambas as experiências, somadas à da Bolívia, onde também fui embaixadora, convenceram-me de que há uma cultura latino-americana que vai além da linguagem e cresce em importância paralelamente à soma de nossas respectivas economias.

Com pouco mais de 11 milhões de habitantes e uma grande diáspora, os cubanos são conhecidos em todo o mundo pela excelência nas artes, nos esportes e na pesquisa científica

06_1De minha estadia em Cuba, lembro-me da positiva impressão que me deixou seu sistema de ensino. Visitei várias escolas em Punta de Maisi, onde Cuba quase toca o Haiti. Mesmo na mais remota escola, fomos recebidos por crianças perfeitamente uniformizadas e alegres. Elas recebiam alimentos ao entrar e ao completar a jornada escolar, enquanto seus pais estavam ocupados em tarefas no campo. Também visitei escolas rurais no ocidente, onde havia computadores simples, que funcionavam com energia solar. Não deixei de me surpreender com o fato de os cubanos produzirem seu próprio software educacional, que pensei que poderia ter sido utilizado no México. Me chamou a atenção a importância dada à aprendizagem de línguas estrangeiras, especialmente o inglês. Outra característica que notei foi a atenção com as pessoas com deficiência, integradas nas salas de aula, resultando em positiva aprendizagem de vida. Há também excelência na educação dos adultos. Vários governadores mexicanos contrataram serviços de alfabetizadores cubanos para atuar em áreas mais remotas, com ótimos resultados. Cuba tem uma das maiores taxas de escolarização da América Latina e analfabetismo quase inexistente.

Ao longo dos 36 anos no Serviço Exterior mexicano, comprovei o elevado nível de meus homólogos cubanos e a ampla e eficaz rede de embaixadas em todo o mundo. No passado, quando o México teve que se mobilizar para ganhar na campanha da Organização das Nações Unidas (ONU), recorremos ao apoio dos cubanos para apresentar nossos candidatos. Na África, e até mesmo no Caribe anglófilo, recebemos apoio inestimável. Sempre achei que os diplomatas cubanos estavam entre os mais bem informados. Ao aplicar essa disciplina de trabalho para que sua economia possa competir no mundo, estou confiante de que estarão dentro dos mesmos esquemas de integração econômica que nós, porque têm muito a contribuir.

Sempre achei que os diplomatas cubanos estavam entre os mais bem informados. Ao aplicar essa disciplina de trabalho para que sua economia possa competir no mundo, acredito que estarão dentro dos mesmos esquemas de integração econômica que nós

Desde o início da Revolução Cubana se privilegiou o investimento social sobre a infraestrutura e se colocou a igualdade como meta, acima da eficiência econômica. No entanto, Cuba já iniciou o caminho de abertura e liberalização econômica para aumentar sua produtividade. Quando os cubanos puderem abrir sua economia à concorrência internacional, nada nem ninguém poderá pará-los. Eles já são um destino turístico privilegiado com enorme potencial de crescimento graças a sua localização geográfica única. A Espanha tem contribuído com seu investimento hoteleiro e turístico para facilitar o “multidestino” no Caribe, que se torna cada dia mais atraente ante os desafios de segurança apresentados por outras regiões do mundo. Os países que têm sido amigos de Cuba por meio de uma história comum, apesar do isolamento forçado, como a Espanha e o México, devem apoiar a abertura, para que se desenvolva com sucesso o ritmo, o tempo e a forma que será decidida pelos cubanos. Uma Cuba integrada ao mundo e próspera fortalecerá toda a América Latina.

Roberta Lajous
Embaixadora da Espanha e do Principado de Andorra
É membro do Serviço Exterior Mexicano desde 1979. Em 1995, obteve o posto de Embaixadora. É graduada em Relações Internacionais pelo El Colegio de México e professora em Estudos Latino-Americanos da Universidade de Stanford, na Califórnia. Foi Embaixadora do México na Áustria (1995-1999), Cuba (2002-2005) e na Bolívia (2007-2009), representante permanente das Nações Unidas com sede em Viena (1995-1999) e, posteriormente, em Nova York (2001-2002). Na Secretaria de Relações Exteriores foi Diretora Geral para a América do Norte (1983-1986) e, posteriormente, para a Europa (1986-1988). Também foi membro do Comitê Executivo Nacional do Partido Revolucionário Institucional, entre 1989 e 1994 e de 2005 a 2006.

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