UNO Dezembro 2016

Associações empresariais diante do desafio de independência e legitimidade

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Hoje em dia é muito difícil, para não dizer impossível, conceber um setor empresarial no mundo em que os diferentes atores não estejam organizados sob a figura de uma associação. Partindo daquelas mais tradicionais e reconhecidas, passando pelas vinculadas a setores regulados até as de mais recente criação. Todas têm um mesmo fim e propósito, que não é outro senão resguardar “o natural interesse de seus associados”.

Até uns 10 anos atrás, a opinião pública chilena e internacional compartilhava o suposto de que a dura competição entre empresas era suficiente incentivo para gerar mercados perfeitos. Nesse cenário, cada empresa tinha estratégias comerciais e comunicacionais autônomas com as quais competir. Mas os tempos mudaram. Os consumidores deram-se conta de que o mercado não era perfeito e de que as empresas nem sempre agiam lealmente. Esse aprendizado gerou a já conhecida onda de críticas sociais que se traduziram nas pesquisas que mostravam baixíssimos níveis de confiança nas empresas e nos empresários.

Por sua vez, as empresas começaram a dar-se conta de que, embora continuassem competindo ferrenhamente no âmbito comercial, convinha juntar estratégias comunicacionais por indústria, única maneira de enfrentar a saraivada de críticas.

Isso reimpulsionou as empresas a buscar associar-se, entregando a responsabilidade do relacionamento com os diferentes stakeholders aos sindicatos.

Alberto02O problema é que os consumidores e a opinião pública rapidamente assumiram que essas associações tinham ação interessada. Ao reclamar sobre a nova norma de etiquetados, a associação de empresas de alimentos considera os consumidores? Quem defende a Associação de Bancos na regulação do consentimento expresso nos contratos financeiros? A resposta é bastante óbvia, você dirá. Defendem os interesses das empresas. Bom, esse é justamente o problema para a construção de boas políticas públicas. Porque as autoridades setoriais e a opinião pública partem do pré-juízo de que as opiniões dessas associações estão orientadas a defender posturas corporativas e não necessariamente o bem comum da sociedade.

É um diagnóstico exagerado? Não se nos guiarmos pelo que diz a pesquisa Bicentenário da Pontifícia Universidade Católica do Chile. Indagados qual é sua opinião sobre “os bancos” majoritários, 62% dos chilenos declaram ter pouca ou nula confiança neles. Por outro lado, quando se pergunta a eles pelo banco onde são “clientes”, reverte-se a opinião com mais de 60% declarando ter-lhe muita ou bastante confiança. Similar bipolaridade se dá quando se pergunta pela confiança “nas empresas” com apenas 16%, comparado com a confiança “na empresa onde você trabalha”, com 72% de confiança. Extrapolando esta evidência, poderia concluir-se que os chilenos tendem a desconfiar da opinião que provém dos grupos de empresas, incluindo, naturalmente, por conseguinte as associações sindicais.

É um fato que as associações enfrentam um cenário complexo de legitimidade social.

Enfrentamos no Chile e no mundo um ambiente social crescentemente exigente com as empresas. Aumentou o padrão em transparência, livre competição e sustentabilidade. Por isso parece inevitável que os sindicatos redesenhem a maneira de estruturar suas associações, assim como de avaliar os sinais públicos que expressam a composição das diretorias de tais sindicatos, especialmente as que representam indústrias que prestam serviços públicos de alto impacto social.

Nesses casos, parece recomendável que as associações repliquem uma prática de grêmios empresariais de países da OCDE: que os estatutos desses grêmios considerem diretorias com integração não só de diretores representantes das empresas (tipicamente seus gerentes, executivos principais, diretores ou controladores) mas também se complemente com a de diretores independentes: profissionais sem vínculo trabalhista ou econômico com nenhuma empresa. Personalidades com legitimidade pública suficiente e que, tendo de decidir a postura do sindicato acerca de uma nova regulação, não tenham outra consideração que sua experiência profissional, sua reputação pessoal ou sua experiência como usuário. Isso permitiria às associações revestir de maior representatividade e legitimidade as recomendações de sua diretoria perante essas novas normativas.

Apenas as associações sindicais que sejam capazes de demonstrar sua independência de juízo perante os cidadãos terão maior legitimidade para expor suas opiniões e propostas.

Alberto Etchegaray
Presidente da BOARD, Centro de Governo Corporativo da Universidade Adolfo Ibáñez
É presidente da BOARD, Centro de Governo Corporativo da Universidade Adolfo Ibáñez. Além disso, é conselheiro no estudo Garrigues Chile e diretor da Compass Chile, administradora geral de fundos; membro do conselho consultivo do mercado de capitais do Ministério da Fazenda; membro do conselho de autorregulação da Indústria de Fundos Mútuos no Chile; sócio-fundador e diretor da InBest, organização sem fins lucrativos destinada a promover o mercado de capitais chilenos. Anteriormente foi superintendente de valores e seguros e secretário-geral da Universidade Alberto Hurtado. É advogado da Universidade Diego Portales e tem mestrado em políticas públicas pela Universidade Georgetown. [Chile].

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