UNO Agosto 2013

América Latina: a liderança em tempos de união

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Em recentes décadas, a América Latina parece ter encontrado seu rumo. O modelo econômico que o Chile pôs em prática há décadas atrás –uma economia social de mercado aberta ao mundo, na qual o governo se reduz a um papel subsidiário e a iniciativa individual se torna o grande motor da prosperidade– estendeu-se gradualmente por um conjunto de países que já representa 80% da economia e população regional. A ortodoxia se impôs em matéria macroeconômica, contribuindo na aceleração das taxas de crescimento. As velhas teorias estadistas e protecionistas foram desacreditadas pelos resultados: apesar da “Grande Recessão”, a última década foi a de mais sucesso na história da região, o que tornou possível que entre 50 e 70 milhões de latino-americanos superassem a pobreza, transformando a América Latina em uma região de classe média.

As novas liberdades econômicas têm andado de mãos dadas com a recuperação das liberdades políticas, ao ponto que todos os atuais governantes latino-americanos tenham sido eleitos democraticamente (exceto a ditadura cubana, uma exceção em fase terminal). A potente classe média ganhou um crescente protagonismo no cenário político e está exigindo espaços de participação cada vez maiores, desconcentrando as elites políticas herméticas que em muitos casos não souberam adaptar-se às mudanças. Os cidadãos não somente exigem uma maior efetividade e transparência na gestão governamental (com uma lógica própria da sociedade de consumo), mas também maior representatividade. Mais discreta, também está demandando uma visão política mais clara sobre o modelo de “sociedade desenvolvida” que se aspira a construir.

Ao que parece, a América Latina encontrou seu rumo. O modelo econômico proposto pelo Chile estendeu-se a um conjunto de países que já representa 80% da economia e população regional

A “INTEGRAÇÃO PROFUNDA”
COMO NOVO DESAFIO REGIONAL

Em meio a estas novas realidades, uma surpresa: ao abrirem suas portas ao mundo, os países latino-americanos também as abriram a seus vizinhos, tornando realidade a tão desejada integração econômica quase sem se dar conta. Para ilustrar: Chile, Colômbia, México e Peru hoje estão unidos por tratados de livre comércio bilaterais que os transformam em um grande mercado de mais de 200 milhões de consumidores, maior e mais aberto que o Brasil.

Os governantes desses quatro países, neste novo contexto, estão colocando em prática uma “área de integração profunda”, a Aliança do Pacífico, com o objetivo de obter benefícios muito concretos em diversas esferas por meio de uma maior integração. Outros países latino-americanos com economias abertas anunciaram sua intenção de unir-se ao projeto.

NOVOS DESAFIOS, NOVAS LIDERANÇAS

06Obviamente, depois de décadas de esforços integracionistas em vão a nível regional e sub-regional, a Aliança do Pacífico não tem mais opção a não ser legitimar-se através dos resultados atingidos. Neste sentido, será vital garantir a qualidade “técnica” e a capacidade de execução daqueles que a liderarem.

A experiência europeia demonstra, no entanto, que seria um erro idealizar um processo integracionista com um esforço eminentemente “técnico”, distante dos cidadãos. As cúpulas governantes não estão em condições de incentivar um projeto desta natureza exclusivamente baseadas em consensos “técnicos”, independente de o projeto ser bem ou mal administrado, a não ser que os cidadãos percebam a sua lógica. Os benefícios possíveis devem ser compreendidos e os resultados, reconhecidos e valorizados pela sociedade. Portanto, os cidadãos devem apropriar-se do projeto e legitimar seus avanços. Desse ponto de vista, o processo é, sem dúvidas, “político”.

Isso exige não apenas seguir as regras do jogo democrático, como também abrir o projeto o máximo possível à participação cidadã desde o começo. Neste contexto, liderar é sinônimo de identificar rapidamente esferas de alto impacto onde seja possível realizar avanços reais e significativos e estar focado neles; gerar consensos sólidos em torno de iniciativas específicas a serem implementadas, baseadas em um diálogo público-privado; executar com sucesso as iniciativas acordadas; e comunicar tais sucessos de modo a gerar novos consensos com relação às metas ainda mais ambiciosas e garantir os apoios para consegui-las.

A experiência europeia demonstra, no entanto, que seria um erro idealizar um processo integracionista com um esforço eminentemente “técnico, distanciado dos cidadãos

Se a América Latina deseja transformar-se em um dos grandes protagonistas do século XXI a nível global não tem outra opção a não ser levar adiante esse projeto com sucesso. Já se passaram quase dois séculos desde que a região executou um projeto comparável em abrangência e ambição. As novas realidades fazem com que o momento atual seja mais propício: Dizem que Bolívar foi derrotado pela geografia, enquanto hoje ela nos leva à união. Mas, em outros termos, o desafio é mais complexo, já que requer um nível de participação cidadã muito mais elevado do que o aquele ao que estamos acostumados. Felizmente, esse não é mais alto do que o nível de participação que os cidadãos exigem. Neste, como em outros contextos, a América Latina não tem outra opção, a não ser se tornar profundamente inovadora.

Raúl Rivera
Fundador do ForoInnovación e Diretor da ASECH
Autor de “Nuestra Hora: Los Latinoamericanos en el Siglo XXI” (Nossa Hora: Os Latino-americanos no século XXI) (Perason), um livro que derruba vários mitos sobre a América Latina e convoca os latino-americanos para que unam forças em torno de um projeto regional à altura das suas possibilidades. Fundador do ForoInnovación, uma fundação que incentiva o empreendimento e a inovação na região, e da TNX, a empresa líder de Telecom Expense Management na América Latina, é também Vice-presidente da Diretoria da Fraunhofer Chile Research e diretor da Universidade Andrés Bello, a maior do Chile. Durante os anos de 1980 e 1990, liderou a expansão de The Bostan Consulting Group na América Latina. @raulriveraa

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