UNO Agosto 2013

As fundações, uma adaptação necessária

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O papel e a razão de ser das Fundações das grandes empresas estão conhecendo um processo de evolução e adaptação na medida em que vem progredindo a definição do conceito de Responsabilidade Social Corporativa. As Fundações correm dois riscos bem conhecidos.

Por um lado, representar a parte mais amável da Corporação, transformando-se em uma espécie de “grande regador” de múltiplos projetos sem qualquer fio condutor. As colaborações e patrocínios são concedidos em função do momento e da personalidade daqueles que os solicitam. Trata-se, principalmente, de ter uma boa imagem.

Por outro lado, consiste em vincular, quase que exclusivamente, o trabalho da Fundação com as necessidades do negócio. Os projetos da Fundação servem para acompanhar as operações corporativas como um complemento cultural, social, esportivo, que permite abrir portas ou mitigar resistências. A importância da operação corporativa é o que costuma determinar o valor do projeto ou do patrocínio a ser implementado.

Os seus órgãos  de governo e gestão financeira estão submetidos ao princípio  de transparência

Essas duas críticas habituais ao trabalho das Fundações das grandes corporações foram superadas e, atualmente, as Fundações começaram a ter uma vida mais autônoma e a desenvolver programas próprios com o objetivo de oferecer à sociedade uma espécie de devolução de uma parte dos benéficos empresariais na forma de programas culturais, educacionais, de pesquisa, de contribuições sociais, arquitetônicas…

O desenvolvimento do conteúdo da Responsabilidade Social Corporativa nos últimos anos como um conceito de caráter estratégico, transversal, na atividade cotidiana da empresa supôs uma nova orientação na aprovação de Códigos de Governo corporativos muito exigentes com a transparência e com as consequências econômicas, sociais e ambientais da atividade da empresa.

06Não se trata apenas de garantir ao acionista e aos investidores um sistema de governo empresarial transparente, e com regras obrigatórias de boa governança para os gestores da corporação, a evolução do conceito de Responsabilidade Social Corporativa obriga a empresa a considerar nas suas decisões estratégicas, qual será o impacto dessas decisões no conjunto da sociedade, especialmente no aspecto econômico, social e ambiental. Considerações em matéria de proteção social e desenvolvimento sustentável estão sendo incorporadas ao processo de decisões estratégicas das grandes corporações.

A reputação corporativa é uma referência obrigatória na hora de determinar os prós e os contras de uma decisão. As consequências de uma decisão errada, com efeitos sociais ou ambientais desastrosos sobre a reputação da corporação, pesa cada vez mais na tomada de decisões. Trata-se de uma evolução muito positiva no comportamento das empresas.

Logicamente as Fundações seguiram essa evolução e representam a exteriorização do exercício responsável e sustentável da atividade da empresa. Na maioria dos países existe uma legislação específica para as Fundações, que impõe condições muito exigentes a respeito do seu funcionamento interno. Os seus órgãos de governo e gestão financeira estão submetidos ao princípio de transparência e a elaboração de um relatório anual de prestação de contas é obrigatória. Na Espanha a obrigação é dupla, uma vez que as Fundações estão submetidas ao controle e à verificação das contas por parte do Ministério da Fazenda e do Ministério da Cultura.

Na Fundação Iberdrola, da qual sou presidente, optamos por um modelo de Fundação em que reduzimos expressivamente a quantidade de projetos e patrocínios, para nos direcionarmos mais à elaboração de programas. Decidimos fazer menos, porém, aquilo que pretendemos fazer, queremos fazê-lo bem, e se possível, muito bem. Afastamo-nos do modelo “Fundação regador”, ou seja, aquela que tem vários projetos, geralmente de baixo custo, nos mais diferentes setores.

Arte e Cultura, Formação e Pesquisa, Sustentabilidade Ambiental e Colaborações Sociais são os quatro programas do nosso Plano Diretor. Dentro de cada programa, também optamos por selecionar os objetivos apostando na qualidade da atividade a ser financiada.

As Fundações devem se especializar, evitar a automatização das suas atividades

Um exemplo ilustrativo de como trabalhamos na Fundação Iberdrola. Uma vez que a empresa é a geradora de energia, a maior demanda de projetos está relacionada à reabilitação e iluminação de prédios. Tomamos a decisão de reabilitar e iluminar apenas um prédio emblemático por ano, suprimindo uma quantidade de projetos em prédios públicos e igrejas espalhados por toda a Espanha.

Foi assim como nos últimos três anos nos concentramos no Monastério de El Escorial, iluminando a igreja e as suas abóbadas, com os maravilhosos afrescos de Lucas Giordano; no ano seguinte, o Monastértio de San Millán de la Cogolla, berço da língua espanhola; este ano, o Oratório de San Felipe de Neri, onde foi elaborada a Constituição de 1812; e este ano faremos a iluminação da Câmara de Deputados, um dos espaços arquitetônicos mais representativos da comunidade de Madri.

Em nossa opinião, essa é uma estratégia correta. As Fundações devem se especializar, evitar a automatização das suas atividades.

Manuel Marín
Presidente da Fundação Iberdrola
Presidente da Fundação Iberdrola desde julho de 2008. Desenvolveu ampla carreira política na Espanha e Europa, com importantes cargos no seio da Comissão Europeia, entre os quais, Vice-Presidente da Comissão e responsável por Assuntos Sociais, Educação e Emprego. A partir dessa posição, criou e desenvolveu o Programa “Erasmus”, projeto comunitário de intercâmbio e apoio a estudantes. Foi eleito deputado pela Ciudad Real, Espanha, nas eleições gerais de 2000 e 2004. Em abril de 2004, foi eleito Presidente da Câmara de Deputados, cargo que ocupou até o encerramento do mandato.

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